A Industrialização do Parto e da Agropecuária

Por Mayra Calvette - Publicadodo no site http://blog.giselebundchen.com.br/sentido/a-industrializacao-do-parto-e-da-agropecuaria/


A industrialização da agropecuária e do parto se desenvolveu lado a lado durante o século XX. Quais são as semelhanças? A agricultura e o parto industrializado têm muitos pontos em comum. É como se a dominação da natureza, que tem sido base das nossas civilizações por muitos milênios, tivesse atingido outra ordem de magnitude. Um limiar foi ultrapassado.

Em ambos os casos houve inovações que pareciam a solução de um problema. Por exemplo, o uso generalizado de produtos químicos na agricultura pode ser claramente compreendido, pois reduziu drasticamente os custos, aumentou a produtividade, a variedade de produtos e o lucro dos agricultores. De modo similar, sempre existiu uma determinação feminina em superar os obstáculos do parto, o medo de morrer. Surgem então os avanços tecnológicos e as técnicas modernas e seguras da cesariana, diminuindo a mortalidade materna e neonatal.

Hoje estamos em um momento de questionamentos quanto ao uso excessivo da tecnologia sem ele realmente seja necessário.

O progresso da agropecuária industrializada foi associado a uma série de grandes avanços tecnológicos. Foram feitos investimentos enormes, com o objetivo de aproveitar a maquinaria que pouparia o trabalho humano. Isso ocorreu junto às indústrias química e farmacêutica, através da utilização de fertilizantes sintéticos, herbicidas, inseticidas, tratamento dos animais com hormônios, antibióticos, produtos químicos, assim como a produção em massa de animais para consumo humano.

Hoje sabemos o quanto a agropecuária industrializada, com o uso excessivo de produtos químicos, pode trazer malefícios para nossa saúde, solo, água, plantas e animais, enfim para o equilíbrio da nossa Mãe Terra. Por isso é crescente o número de pessoas que buscam uma alimentação natural e orgânica, preocupados não só com sua saúde, mas com o bem estar do planeta.

A humanidade não pode sobreviver sem redescobrir as leis da natureza segundo Ina May Gaskin, autora de Spiritual Midwifery. Diz que o primeiro passo deverá ser de reconsiderar a forma pela qual os bebês nascem e, em nome das gerações por nascerem, deve-se parar com a destruição do solo através dos métodos agrícolas agressivos.

O parto industrializado tem como fenômeno mais importante o aumento do controle do processo do parto pelos médicos. Enquanto a participação do médico no parto aumentava, o status e o papel da parteira minguavam.

Um médico e professor americano, Joseph DeLee, em famoso artigo intitulado “O uso profilático do fórceps” observou que o parto é um “processo patológico”, recomendando o uso de rotineiro de fórceps e de episiotomia e sugerindo que a “paciente” fosse sedada. Ele teve tanta influência na década de 30, que a obstetrícia profilática já tinha se tornado a norma. Também foi no início do século que se utilizava o “sono do crepúsculo”, uma mistura de morfina com drogas amnésicas, assim a mulher não se lembrava de nada. Cada vez mais os partos se concentravam em hospitais e tornavam-se uma linha de produção, com cada vez mais impessoalidade. Em torno da década de 50 surgiram as técnicas modernas de cesariana. Vale lembrar que, por volta de 1920, o índice de cesariana nos Estados Unidos era em torno de 0,2% devido ao alto risco e subiu para 5% em 1968.

Dentro de poucos anos a era eletrônica do parto estava estabelecida. Mais recentemente surgiu a analgesia peridural. Passou a existir um parto “normal” padronizado. Na idade do parto industrializado, a mãe não tem o que fazer. Ela é uma “paciente”.

Frédérick Leboyer, autor do Birth wothout violence, se perguntava como o homem, um animal racional, considerado inteligente, age de maneira tão irracional num momento tão importante? O argumento é uma referência à dimensão cultural e à questão dos rituais agressivos que recebem os recém nascidos na sociedade industrializada.

Ao decorrer do século XX diversos movimentos surgiram como reação à industrialização do parto. Existiam pouquíssimas informações disponíveis sobre parto. A ignorância levava ao medo e ao despreparo. O objetivo da informação é lembrar constantemente que existem alternativas ao parto industrializado, como temos escrito no Blog.

Estamos prestes a entrar na era pós-industrializada do parto, onde temos disponíveis os recursos tecnológicos e temos conhecimento da importância de se respeitar a natureza do parto. O movimento está crescendo, mas ainda não está consolidado.

A principal diferença é que uma série de visíveis desastres tem induzido uma nova consciência no caso da agropecuária. A história do parto ainda não chegou à mesma etapa.

Por qual desastre estamos esperando?

Saiba mais no próximo artigo.

Artigo baseado no livro “O Camponês e a Parteira”, de Michel Odent, 2002.

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